A Marcha na Comunicação social II

Jornal Público (Versão impressa)
Marcha contra a criação de mega-agrupamentos de escolas em Gaia

Manifestantes temem falta de proximidade com alunos, salas de aula demasiado cheias e mais desemprego

Cerca de 150 pessoas manifestaram-se ontem, em Gaia, contra a criação de mega-agrupamentos de escolas no próximo ano lectivo.
Professores, pais e alunos reuniram-se, ao início da tarde, junto ao El Corte Inglès e caminharam uma curta distância até à Câmara de Gaia, empunhando cartazes e balões e repetindo frases ditadas a um megafone, como: “Para os bancos vão milhões, para as escolas vão tostões!”


A ideia de realizar uma marcha surgiu após uma recente reunião, realizada na Escola Secundária de Oliveira do Douro, para debater os mega-agrupamentos. Já os apelos à participação feitos na internet atraíram pessoas de outras comunidades educativas.
A marcha de protesto contou também com o apoio do Sindicato dos Professores do Norte e foi ainda elaborado um abaixo-assinado contra a criação destas superestruturas de ensino.
Ilda Figueiredo, ex-deputada da CDU no Parlamento Europeu, está em pré-aposentação e reocupou o seu lugar de docente na Escola Secundária Almeida Garret, em Gaia. Participou na marcha de ontem porque considera os mega-agrupamentos “um ataque à escola pública de qualidade”. Antevê “aumentos de alunos por turma” e “difi culdades de gestão” nestes mega-agrupamentos, que poderão atingir cerca de três mil alunos. “Crianças com dificuldades, famílias com difi culdades, não poderão ter a atenção necessária. Querem transformar a escola pública em centros de exclusão social”, avisava a ex-eurodeputada.

Gaia soma hoje nove escolas secundárias e 14 agrupamentos (até ao 9.º ano de escolaridade), estando prevista a formação de quatro mega- agrupamentos que irão juntar as secundárias aos agrupamentos que
agora existem. Para João Paulo Silva, professor de Matemática na escola básica de Canidelo, “não faz sentido a gestão do dia-a-dia passar a estar num sítio qualquer; isto não faz sentido com miúdos de 10, 11 anos”. Para além de temer perdas de postos de trabalho, o docente queixa-se de as comunidades educativas não terem sido ouvidas na elaboração deste processo. E lembra, também, que uma “relação de proximidade” com o aluno “só é possível num nível micro e não macro”.
Outro dos participantes na marcha, Avelino Azevedo, professor de Educação Física e presidente
do conselho geral da Escola Secundária de Oliveira do Douro, lamentou a posição da Câmara de Gaia. Segundo o docente, a autarquia mostrou-se contra a formação dos mega-agrupamentos, mas acabou por aceitar a sua concretização.
“Fomos surpreendidos com o acordo da autarquia, que provocou uma revolta enorme na comunidade educativa”, lamentou, acrescentando que o Conselho Municipal de Educação não foi consultado sobre esta matéria.
Segundo Avelino Silva, a criação de mega-agrupamentos já no próximo ano lectivo “está a ser feita em cima do joelho e, em termos pedagógicos, vai ser terrível para os alunos”.
O professor acredita que a medida irá provocar mais desemprego num concelho já muito fustigado por este flagelo. “Cada escola que agrupe são menos 13 professores, em média”, acrescentou. Não duvida que o “grande número de alunos por sala de aula” será “um problema pedagógico” e avisa os pais de que “não vão poder colocar os fi lhos na escola onde querem”.
À chegada às portas da câmara de Gaia não havia nenhum responsável da maioria PSD/CDS para receber
os manifestantes. Mas os seus representantes foram recebidos pelos vereadores da oposição, Eduardo Rodrigues e Elisa Cidade, ambos do PS. Entre outras críticas, Eduardo Rodrigues garantiu que a carta
educativa do concelho “foi deitada para o lixo” neste processo. “As soluções encontradas contradizem a
carta educativa”, insistiu. O socialista lamentou que a comunidade educativa de Gaia “não tivesse sido
ouvida”, que o Conselho Municipal de Educação não se tivesse pronunciado sobre o assunto e que o mesmo não tivesse sido discutido pelo executivo camarário.
Contactado pelo PÚBLICO, o vereador da Educação na Câmara de Gaia, Firmino Pereira, referiu
que representantes desta marcha tinham pedido uma audiência ao
presidente da câmara, Luís Filipe Menezes, e que esta lhes será concedida.
Firmino Pereira garante que continua a estar contra a criação de mega-agrupamentos. No entanto, o vereador afi rma que percebeu a inevitabilidade destas estruturas e tratou de lutar por “uma proposta com menos custos para Gaia”.






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